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Invisibilidade masculina: o véu que cobre o que ninguém quer ver

Por: Carla Santos Santiago - citra108dasi@gmail.com

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Já me dediquei a explicar sobre a invisibilidade feminina e como ela colabora para o isolamento da mulher ao lar e as tarefas domésticas. Mas sabia que existe uma invisibilidade masculina? Aquela que torna o homem invisível em situações que cobram sua participação e responsabilidade. 

 

Onde podemos avistar rapidamente essa implacável invisibilidade masculina? Na paternidade. Vou trazer um exemplo bem claro. O ator Nick Cannon, ex-marido da Mariah Carey, possui 12 filhos de 6 mulheres diferentes, sendo que muitas das gestações aconteceram nos últimos anos. O assunto foi anunciado de forma jocosa por um portal de notícias, exaltando a capacidade reprodutiva do rapaz, quase como se fosse um dom divino para a procriação. Eu, particularmente, conheço mulheres que têm muitos filhos de homens diferentes e nunca vi esse tipo de deslumbramento. Sabe o que é mais interessante? Todas as crianças ficaram com a única mãe, que ainda precisa lutar na justiça pela pensão de cada filho. No caso comentado, não há qualquer indício que algum filho more com ele e que haja intentos para tal. As crianças vivem cada uma com suas mães e ele é a visita que se reveza entre os pequenos. A irresponsabilidade de um homem maduro de não conseguir criar seus filhos passa completamente invisível. 

 

De fato, a invisibilidade é revestida de algum tipo de qualidade ou potência. É interessante ver isso porque, para as mulheres, o parâmetro é outro. A invisibilidade se veste de crítica e julgamento. Se não existe fraldário no local que a mãe frequenta é porque ela inventou de ter um filho e precisa aprender a resolver suas necessidades sozinha, com seus próprios recursos. Se ela quer estudar, ter entretenimento, passear ou qualquer outra atividade que amplie sua sociabilidade, o mundo a enxergará como uma pessoa que precisa se responsabilizar pelo o que faz e por isso não é obrigação da sociedade resolver seus problemas.

 

Continuando no campo da paternidade, há pouco tempo, a atriz Luana Piovani fez um stories revoltada falando com Pedro Scooby, pai de seus filhos, já que ele a havia bloqueado no celular, avisando sobre a vitamina de uma das crianças e a vacina de outra (eles têm três filhos). Não é a primeira vez que a atriz aponta comportamentos de descuido do ex-marido com os filhos. Desde faltar compromissos da escola a não cuidar do piolho no cabelo dos pequenos, ela já deixou bem claro que ao cumprir sua paternidade há anos, ele não melhora seu comportamento em nome do bem estar das crianças. Mas há algum alarde sobre isso? De jeito algum! A irresponsabilidade é completamente apagada e seu “jeitinho” virou até piada quando o surfista estava no Big Brother de 2022. Na verdade, ficou claro no reality que ele escolhia ser desleixado. O cara se saía super bem nas provas, tinha muito foco e concentração para cumprir todas as etapas e superar desafios. Mas, não conseguia lembrar de colocar o microfone (o que lhe causava prejuízos no jogo) ou de estar na sala quando o programa estava ao vivo. 

 

E sabe qual a parte da invisibilidade desse caso que mais me assusta? A mulher atual dele planejar uma gravidez, mesmo acompanhando de perto seu comportamento irresponsável, e até se encarregar de tapar seus buracos quando ele deixa a ex-mulher na mão. Ela está vendo na sua frente o pai que ele será e ainda assim tem um filho com ele porque ela vê, mas não vê, entende? O privilégio dele é tão grande que aquilo que é claro e cristalino como água não é visto de verdade e aí entram as justificativas mais inúteis, tipo: “Dessa vez vai ser diferente”, “Ele ama os filhos, isso é o mais importante”, “Com mais um filho, ele amadurece mais”. 

 

Precisamos debater seriamente as contradições sobre essas invisibilidades em relação ao gênero. Enquanto a invisibilidade feminina reproduz opressão e apagamento de suas necessidades e direitos, no homem, o mesmo mecanismo resguarda seus privilégios e o mantém no topo. É um ciclo bizarro onde o privilégio faz o sujeito não se preocupar com algo, a invisibilidade impede que a sociedade o cobre responsabilidade pelos seus erros e, sendo desresponsabilizado, ele continua seu comportamento, afinal como a maravilhosa advogada Stéphanie Azevedo do @advogoparaelas resumiu bem: “Se eu não sinto as consequências, continuo fazendo”.

 

Muitas formas de invisibilidade são sustentadas pelo silenciamento, em um pacto inconsciente (ou não) entre os homens de protegerem uns aos outros dentro da sua bolha de masculinidade. Outro exemplo relevante são as situações de violência e assédio que são minimizados e até descartados pela conjuntura social e especialmente pela irmandade machista. Os homens são apagados nessas histórias, alegando “falta de maturidade”, “problemas mentais” e “falta de controle dos impulsos”. Já as mulheres são vistas por lupas microscópicas, onde vozes por todos os lados trazem inúmeros questionamentos, do tipo: “Afinal, qual roupa ela usava?”, “O que ela disse para ele ter perdido a cabeça?”, ou “Que tipo de provocação dela fez o cara acabar fazendo algo tão ruim?”

 

Mas, sabe o que mais me surpreende nessa questão da invisibilidade masculina? Ela prevalece mesmo quando o homem quebra os padrões machistas e age com responsabilidade. De fato, a ideia de escrever esse texto veio após eu ler o desabafo de um seguidora, que relatou a mim suas dores na experiência como madrasta das crianças de seu namorado que haviam perdido a mãe há pouco tempo. Ela descreve que o parceiro se responsabilizou totalmente pelos filhos e tem tentado dar todo o suporte a eles no momento de luto, porém, família e amigos vivem cobrando que ELA faça o papel de mãe da casa, que o pai não seria suficiente e, por isso, seria preciso que ela se dedicasse mais às crianças. Mas, gente, e o tanto de mãe solo nesse mundo que ninguém cobra ao pai VIVO que se manifeste? Ou que falam que a mãe pode cumprir os dois papéis, virando a tal “pãe”? 

 

Acho que fechamos o assunto com total clareza que a invisibilidade masculina está por todos os lados, cumprindo seu papel primordial de fortalecer os privilégios masculinos, alimentar os silenciamentos e oprimir a existência da mulher na vida social. 

 

Pois, para mim, seus dias estão contados. 

Invisibilidade masculina, eu te vejo, eu te vejo, eu vejo…

 

FONTE: https://www.instagram.com/advogoparaelas/ 

SOBRE A AUTORA

Karla Fontoura - Escritora de textos informativo e poemas, palestrante, tradutora, mãe feminista de Kabir. Luto pelas mulheres e as crianças e busco conectar informações relevantes a mudança de consciência e comportamento

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