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A Amamentação da Mulher Negra

"É impossível introduzirmos a pauta da maternagem negra, sem trazer nosso contexto histórico, nossa ancestralidade que pulsa entre os poros. A amamentação para a mulher negra, traz consigo todo peso e dores das mulheres negras escravizadas que serviam de ama de leite e eram obrigadas a deixar de cuidar dos seus para nutrir os filhos da casa grande."

Tomo a liberdade para compartilhar resumidamente a maternagem de minha avó, Augustinha Tomás da Costa, 85 anos, conhecida por todos na cidade onde mora por Negrinha. Mulher negra, mãe de 10 filhos, porém 7 vivos. Casou-se aos 17 anos, teve seu primeiro filho aos 18, e a última aos 40 anos. Todos os partos foram domiciliar. A pobreza socioeconômica fez parte de sua vida por muitos anos. Teve 3 abortos, dentre eles uma gestação gemelar. Ela se recorda que a amamentação, de fato , sempre foi dolorida, por diversos motivos, incluindo eles a falta de tempo, a saúde física e psicológica, e na maioria das vezes, a mesma tinha que encerrar o aleitamento de um filho, pois estaria grávida. E na época, ainda acreditava que o aleitamento nesse período de gestação, causava mal ao filho que ainda amamentava.


Em 2020, muitas de nós ainda somos impedidas de amamentar, pela necessidade de deixarmos nossos filhos muito precocemente para se dedicar ao trabalho. Outras, por adoecimento físico e psicológico. A dor pelo sentimento de inferioridade, por não conseguir nutrir nossos filhos como deveríamos e gostaríamos, ainda nos implica cruelmente. Amamentar pode ser muito doloroso para as mulheres negras, que são afetadas pela maternidade indesejada, já que temos nosso direito pela escolha da maternidade negado, acarretando sofrimento para si e para o bebê.


A mulher negra precisará estar disponível, não apenas fisicamente, mas sobretudo psicologicamente para si e para aquela pequena criatura que depende de você para tudo. É de suma importância, necessário e de uma urgência enorme, falarmos da importância da amamentação exclusiva e de livre demanda até os 6 meses, podendo se estender até os dois anos ou mais da criança , dos benefícios da amamentação em prol da mãe e da criança, porém não podemos excluir as questões que tanto afligem as mulheres negras, que não conseguem manter esse aleitamento por diversos motivos.


Todas e todos nós precisamos de educação em saúde acessível, de políticas públicas para as maternidades, infâncias e famílias, de investimento financeiro e de compromisso social e político com o bem estar integral e a garantia de dignidade desde o começo da vida.

Mulher Negra, não se cobre tanto. Nós já carregamos o mundo nas costas. Não seja tão cruel consigo mesmo. Não se massacre. Não existe um padrão para a maternagem, seja a mãe que você consegue ser neste momento. Não se coloque em um lugar inferiorizado, você está dando o seu melhor na medida do possível, e até o impossível às vezes. Não cometa esse martírio, a sociedade nos julga o tempo todo, não carregue mais um peso.


Você está maternando de carinho e amor, o importante é esse vínculo e ele já vem se formando , sua cria sente e reconhece esse amor, afeto e energias. Digo mais, nós mulheres temos que nos respeitar, ter empatia e sororidade. O que foi uma facilidade, praticidade para você, talvez não seja para outra. Nós temos nossas particularidades dentro das nossas intersecções. Quando eu partilho com vocês essas palavras descritas, eu me curo. E acredito na cura pela partilha das vivências. 


Sobre a autora: Naiara é atriz formada pela escola de teatro PUC Minas, licencianda em teatro pela universidade federal de Minas Gerais (UFMG), autora do @negramanhê_sou, mãe de Cecília e colunista do Núcleo Materna

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